quarta-feira, 25 de junho de 2014

Espírito Santo

 
PEDRO CALADO, ex-vereador
da CMF

Tudo e todos têm o seu tempo, para nascer, para viver e para morrer. Quem não percebe isto, está condenado a morrer à nascença... ou a levar todos os outros a morrerem com eles... já tarde demais!




Confesso que tenho andado algo preocupado e triste por tudo o que vejo acontecer ao Banco Espírito Santo e a toda a sua família. Trabalhei no Grupo cinco anos e conheço bem a sua filosofia e atitude. Tenho uma enorme admiração respeito e saudade.
 
O Banco cresceu ao longo dos anos. Deixou de ser familiar e passou a ser dos accionistas. Passou a ser do “povo”, para o “povo” e para quem ali deposita o seu dinheiro e aplicações. O Banco só existe
enquanto houver depositantes. O Banco existe enquanto Instituição Financeira, como Grupo económico para servir o país e os seus clientes.
 
Tem enormes responsabilidades sociais, económicas e financeiras. Nem sequer vou julgar ou falar sobre a actuação do Presidente do Grupo, do que fez, dos seus administradores, das operações de crédito efectuadas, em Portugal ou fora, do que esteve envolvido, dos dividendos não pagos, das comissões, das entrevistas dadas... enfim. Muito se poderia escrever ou falar.
 
O que não estava mesmo à espera era que tudo tivesse o desfecho que teve... depois de quase 4 décadas, é o Banco de Portugal que vem dizer que toda a Administração tem de sair? E o pior ainda não chegou, pois o mesmo banco de Portugal que durante anos, pura e simplesmente, não fiscalizou nem orientou a actividade bancária em Portugal, pode agora, nomear ou fazer nomeações, totalmente independentes da família Espírito Santo, independentes dos accionistas históricos e de referência.
 
Sendo o Banco, dos accionistas, deve-se dizer, com toda a frontalidade que a família já não detém a maioria do Capital Social. Como tal, deve-se proteger o “Banco” da família Espírito santo, no sentido de proteger os superiores interesses do país, dos seus depositantes e accionistas em geral. A situação de conflito dentro da família, não ajuda nada.
 
Diria mesmo que, só o facto de os portugueses serem conservadores e até gostarem do BES e de tudo aquilo que representa, não levou ainda a males maiores. Assiste-se neste momento, a uma tentativa descontrolada de segurar e controlar um Grupo Financeiro, com esta dimensão e importância, através de razões emotivas e sentimentais. Nada mais errado. Nada se gere com o coração. Se assim for, tudo está comprometido.
 
A família Espírito Santo, deve salvar-se primeiro, antes de tentar salvar o Banco. Hoje, mais do que nunca, será necessária uma gestão independente, emotiva e financeiramente. Com habilidade, bom senso e profissionalismo. Nem que seja para dar o (bom) exemplo, sobretudo depois do que aconteceu ao BCP, BPN, BPP, entre muitos outros.
 
Outra grande ilação que se deve tirar deste caso: ninguém é eterno. Tudo e todos têm o seu tempo, para nascer, para viver e para morrer. Quem não percebe isto, está condenado a morrer à nascença... ou a levar todos os outros a morrerem com eles... já tarde demais!
 

domingo, 22 de junho de 2014

Somos assim...


FILIPE MALHEIRO, Jornalista
«O treinador Bento, que de indiscutível nada tem, quando a Alemanha chegou aos 3-0 (para não dizer antes), teria poupado um Ronaldo que reconheceu, ele próprio, não estar no seu melhor, pensando menos nos "boches" e mais nos EUA que este domingo defrontamos no "caldeirão" infernal de Manaus. Nada disso, deixou-o em campo, à espera dos 4-0...»

Somos uma espécie de país à procura do seu rumo. Todos exigem que Cavaco, a nossa "rainha de Inglaterra" de Belém, demita este governo e afaste esta corja bandalha do poder. Mas depois, o que é que acontece numas miseráveis eleições europeias, que nem sequer servem para limpar a sola do meu sapato - provavelmente porque cada vez mais penso que esta Europa bufa não tem mais remédio, se não acabarem com estes egoísmos nacionalistas e esta ideia de que os mais fortes e mais ricos podem esmagar e subjugar os mais pequenos e tesos? Os partidos do tal governo que alguns exigem que seja apeado, totalizam mais de 950 mil votos e perdem as eleições por escassos 80 e tal mil votos, perdendo apenas mais um mandato que o PS. Resultado mau? Péssimo, se comparado com eleições anteriores. Mas suficiente para que Cavaco dê uma batatada em cima da mesa e faça o que a esquerda e alguma racionalidade apartidária assente no pragmatismo e na lógica esperam e/ou exigem? Obviamente que não.

Sobre a troika, todos percebemos. Ela não sairá de Portugal, nem isso sequer alguma vez esteve em cima da mesa. Manipularam uma data, deturparam uma situação humilhante para um país independente (?), empolaram decisões, sabendo que tudo isso teve a ver com a tentativa de atenuarem a derrota eleitoral nas europeias, porquanto os credores a continuarão a desembarcar em Lisboa, agora com a única diferença que o farão mais discretamente. Não tenhamos ilusões, continuaremos, segundo as próprias instituições internacionais, a ser um dos países mais endividados e pelo menos um dos que mais dinheiro devem ao FMI.

Para não pensarmos nessa nossa desgraça coletiva, surgiu o Mundial de 2014 no Brasil, com uma seleção endeusada - claramente a dar os últimos sinais na antecâmara de uma renovação geracional que mesmo que não queiram fazer, porque há sempre complexos e resistências, vai ter que ser feita nem que seja à força - que na estreia levou 4 batatadas da Alemanha. Imaginem só, logo da Alemanha de Merkel.

Uma seleção que viveu semanas a fio (ainda continua a viver) numa espécie de estase coletiva (e informativa) em torno dos "mistérios" daquela perna de Ronaldo e de uma alegada lesão mal curada que um jornal espanhol avisou que pode ser catastrófica para o madeirense, caso forcem demasiado com ele. Aliás, o treinador Bento, que de indiscutível nada tem, quando a Alemanha chegou aos 3-0 (para não dizer antes), teria poupado um Ronaldo que reconheceu, ele próprio, não estar no seu melhor, pensando menos nos "boches" e mais nos EUA que este domingo defrontamos no "caldeirão" infernal de Manaus. Nada disso, deixou-o em campo, à espera dos 4-0 de uma Alemanha que claramente desacelerou no segundo tempo por causa do calor e a pensar já no Gana que nem foi capaz de vencer este sábado.

Enquanto isso, eis-nos perante o escândalo do BES, não por causa das mudanças propriamente ditas, impostas, ao que se diz, pela entidade reguladora (neste caso o Banco de Portugal que não fez puto quando o anterior governo de Sócrates nos levou para a falência, e levou-nos mesmo!), mas pela sucessão de maus negócios e pelo monumental e estranho buraco na estrutura internacional do BES, com a vertente angolana deste banco a derrapar qualquer coisa como 5 mil milhões de euros, metade dos quais parecem que continuam sem paradeiro! Aliás, dei comigo a pensar, provavelmente porque ninguém consegue esquecer o BPN que já ultrapassa os 7 mil milhões e não tem fim à vista: se este novo potencial buraco for maior que o anunciado - e o demissionário Salgado terá batido com urgência à porta de Passos, sem sucesso, e realizado uma viagem surpresa e relâmpago a Angola em busca de "cuanzas" que pelos vistos não chegaram a tempo - entraremos pelo esgoto definitivamente? O que esta espécie de país precisava mesmo era de um banco a dar o "berro"…

Falhou a ideia de corrermos a troika a pontapé, que nem o tonto relógio de um Portas a perder qualidades - enquanto demagogo e fazedor de propaganda - disfarçou. Falhou a aposta numa seleção nacional capaz de mandar a Merkel para o hospital com diarreia, à custa de uma derrota alemã na estreia do mundial do Brasil, com a qual todos sonhamos. Depois das guerras com o TC, a propósito do acórdão, bendito para alguns, maldito para outros - venha o diabo e escolha - com um governo a comportar-se de forma infantil, mais parecendo um péssimo aluno, que não consegue ao longo do ano mais do que 8 ou 9 mas que exige depois no exame final, lograr na secretaria, a soco e pontapé, um 17 ou 18 que disfarce a sua incompetência e impreparação, só nos faltavam estas guerras capitalistas a que se junta o desfecho, que não me surpreende, do estranhíssimo caso do miúdo Daniel da Calheta, ainda sob investigação criminal, que a PJ parece ter finalmente desvendado ao descobrir pontas que estavam soltas, ao que se diz graças a ajustes de contas pessoais entre os membros do casal, num processo de divórcio com acusações de violência doméstica à mistura.

Somos, sim senhor, uma espécie de país, que não pode por isso ser levado a sério. Valha-nos a festa rural em plena Avenida da Liberdade, no centro de Lisboa, com porcos, galinhas, cabras, ovelhas e hortaliças à mistura, que dá uma imagem bem concreta da nossa triste dimensão. Um dia destes farão aquela “coisa” na pista do aeroporto de Lisboa e desviam os aviões para Beja. Querem apostar?! Enfim, somos assim mesmo, somos tudo isto...

terça-feira, 17 de junho de 2014

Querido Primo!


QUINTINO COSTA, dirigente do PTP-M
 


 
O PS anda outra vez à pancadaria, tal e qual como antigamente, mas agora não é entre o Mota Torres e o Emanuel, esses já se reformaram, mas o filme é o mesmo. O resultado dessa longa-metragem está à vista, o PSD cantara vitória quando todos falavam no fim do regime.
 
 
 
Escrevo-te na esperança que esteja tudo bem contigo e com os teus. Tenho saudades daqueles tempos de juventude quando andávamos na escola, íamos a missa ao domingo e aos bailaricos de verão animados pelo conjunto musical “Os Galáxia” do Vasco ou, em segunda opção, dependendo do orçamento do festeiro, dançávamos ao som dos Antonianos. Os nossos pais, embora ganhando pouco, poupavam e sobrava sempre uns tostões para comermos um perna de pau em dia de festa na aldeia.
Caro primo, algumas coisas hoje já não são como antes. Sempre foste mais esperto que eu, logo que fizeste dezoito anos emigrastes para Bruxelas. Dizias que esta terra não tinha futuro que as obras iam acabar, a hotelaria não ia chegar para todos e que a pesca da espada tinha os dias contados, porque ou bem ovas ou bem espada. E a enxada também não era ferramenta do teu agrado.
 
Tive pena quando partiste e até fiquei irritado contigo. Como podia um jovem tão inteligente e dinâmico como tu cair em tal desânimo!? Foste pessimista, sem esperança no futuro da sua terra. Não acreditaste no teu próprio primo que, desde muito cedo, proferia teorias revolucionárias para desencadear o desenvolvimento económico, cultural e social do nosso povo! Desilusão total. Ainda me lembro da praga que te roguei na hora da despedida – “hás de te arrepender de emigrar, rapidamente perceberás que a Madeira é o melhor lugar do Mundo”.

Pelos vistos não te arrependeste. Podes até achar que a Madeira é o melhor lugar do Mundo, mas que não oferece as mínimas condições de vida: o desemprego aumenta cada vez mais, os impostos tornam-se insuportáveis, a pobreza aumenta do dia para a noite. Já não há dinheiro nem para o tal perna de pau, o centro de saúde é novo mas não temos médico de família. Os enfermeiros da Madeira agora são teus vizinhos, emigraram para as terras de 'sua majestade'.

A via rápida para o Estreito parou, já não há dinheiro e o Jaime não fia mais. Se vieres cá nos visitar, tem paciência e vem pela estrada antiga, mas tem cuidado com os buracos… O aeroporto está maior, tal como as taxas aeroportuárias, aumentam cada vez mais. Se quiseres visitar o Porto Santo, vai de barco, compra tudo no Porto Santo Line dos Sousas. É serviço completo, viagem, estadia, alimentação, piscina, toalhas e se precisares de champô e sabonete eles também têm um mini mercado. Têm de tudo não é para menos, a gula é tanta que comem quase tudo e não sobra muito para os outros.

Meu rico primo, como vês, por cá pouco mudou. O Vasco ainda canta, continuamos amigos, embora o safado, depois dos 50, pregou-me uma partida, agora é autarca do PSD, os antonianos já eram…
O Alberto João ainda é Presidente do Governo. Tem dupla residência, uma na Quinta Vigia e outra aí na tua rua como tu bem sabes. Já agora, aquela senhora que o acompanha por essas terras, dizem chamar-se Élia e é cobradora de impostos, ao que consta tem o estatuto de segunda dama na Madeira e por esses lados é a primeira.

O Albuquerque faz parte da delegação monárquica na Madeira.
O Miguel de Sousa continua em administrador da Empresa de Cervejas. É o campeão dos despedimentos colectivos, mas nos seus artigos no diário parece estar preocupado com os níveis de desemprego.

Olha nem tudo é mau, o presidente da câmara do Funchal é meu conhecido. É da mudança um dia, mas um dia explicou-te o que é essa coisa da mudança. Se vieres cá neste verão faço questão de o te apresentar. É um castiço, mas não demores muito porque podes correr o risco de o conheceres como o ex-presidente da câmara.

O PS anda outra vez à pancadaria, tal e qual como antigamente, mas agora não é entre o Mota Torres e o Emanuel, esses já se reformaram, mas o filme é o mesmo.
O resultado dessa longa-metragem está à vista, o PSD cantara vitória quando todos falavam no fim do regime.

Sei que nunca gostaste de política e sempre tentaste desviar-te destes caminhos, mas olha que isto está animado até há pancadaria na via pública da direita à esquerda. No dia 25 de Abril partiram os óculos a um ex-camarada. O pessoal da extrema-direita também pegou-se na Rua da Alfândega. O presidente da câmara do Porto Santo tem uma queixa em tribunal por ameaças feitas aos eleitos.
 
No Funchal, fala-se em golpadas socialistas, e na nossa terra, por enquanto, nada mudou ao não ser as cerejas que já estão maduras, mas por motivos climatéricos, este ano atrasaram uma ou duas semanas.
Querido primo, fica por aí mais uns dias porque aqui, tal como há vinte anos, está tudo queimado. Dá-me notícias das viagens secretas do Alberto e da sua companhia.

Até á volta do correio, que também já mudou, agora os CTT são já privados. O antigo carteiro, o senhor Henrique já não distribui cartas. Agora são jovens estudantes, trabalhadores precários, que se ocupam na distribuição do nosso correio.
Enfim, são as directrizes modernas vindas da tua rua.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A CDU complicou a vida do PS e do Bloco Central

DÍRIO RAMOS, engenheiro
 
 
A CDU pela coerência, em defesa do povo e do País, obteve um resultado que nos anima para voos mais altos, ou seja obter
tantos deputados na A.R. que impossibilite
o PS de governar
sozinho.
 
 
 
 
Os portugueses que quiseram civicamente votar, decidiram pôr os partidos da Troika, CDS/
PSD agora AP e o PS com menos de 60% de votos. Se este voto fosse para as legislativas,
não haveria maioria de dois terços para alterar a Constituição da República, que apesar de
alterada diversas vezes, ainda complica a vida dos partidos do Arco do Poder, que é mais do
Arco da Desgraça que trama o povo e empobrece o País.

 A vitória do PS , com mais um deputado que o PSD, vitória pírrica, deve - se á custa do CDS
que perdeu um deputado, passando de dois a um. A CDU cresceu um terço em deputados
passando de dois para três, enquanto o BE perdeu dois terços ao baixar de três para um.
Analistas políticos afirmaram que com um resultado de 12,7% nas legislativas a CDU poderia
ter próximo de trinta deputados na Assembleia da República, e, é isto que incomoda o PS que
pretende mudar o seu líder para evitar o crescimento da CDU ( PCP+PEV).

 Manobras de diversão, de gente sempre disposta a partilhar o poder com o PS ou PSD vão
aparecer, como fenómenos tipo Marinho Pinto, aquele que apelou à não votação há três anos
atrás, mas que agora já sonha em ser Presidente da República! Não esquecer que António
Costa do PS, tendo sete câmaras na Área Metropolitana de Lisboa, prefere aliar-se à direita
com duas câmaras, para retirar a presidência da Área Metropolitana de Lisboa à CDU que teve
nove mandatos.

O Coelho passou a rato, deixou de ter 4% quando foi candidato a Presidente da República,
para pouco mais de 1% , e, o seu partido vale menos que o PND, partido de extrema direita
onde este militou.

A foice e o martelo do MRPP continua a enganar muita gente que tinha a intenção de votar na
CDU, pelo que ninguém hoje duvida que os ditos Maoistas, não passam de« mauistas» que só
prejudicam o povo.

A CDU pela coerência, em defesa do povo e do País, obteve um resultado que nos anima para
voos mais altos, ou seja obter tantos deputados na A.R. que impossibilite o PS de governar
sozinho. O PCP pode e deve pertencer a um governo patriótico e de esquerda, que corte com a
política da troika.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Eleições...

 
PEDRO MOTA, Jurista
«Não me importo que o voto seja obrigatório desde que o último dos quadradinhos do boletim diga: “nenhum dos que estão acima".Mas atenção!Se o eleitor assinalar este quadradinho “nenhum dos que estão acima”, este voto deveráser contabilizado como “voto zero”. Isso quer dizer que ninguém ocupa o lugar no
Parlamento!»




Foi muito discutida a abstenção nas últimas eleições. Uma das razões para essa situação
e que foi apontada neste espaço de discussão pelo meu “colega de painel” Filipe
Malheiro foi a de não existir uma identificação/relação entre o voto e o candidato. Estou
100% de acordo e até ia escrever sobre isso, não fosse o assunto ter ficado
(superiormente) esclarecido por quem de facto percebe disto. Ainda assim, vou deixar uma
reflexão ligeira sobre o tema porque penso que não está esgotado.

Efectivamente, é importante que exista uma relação entre o voto e o candidato. Acho
extremamente desagradável dar um voto a um partido político para depois dentro dessa
“organização” utilizarem esse voto como alguém pretender. Digo alguém, porque
poderá não ser (e muitas vezes não é) o candidato em quem pretendemos confiar. E isso
afasta! Afasta os eleitores, não tenhamos dúvidas.

A solução aventada por alguns é o voto obrigatório! Acaba por ter alguma piada e não
deixa de ser um paradoxo! A democracia é isto! Somos obrigados a votar!
Ainda assim, atrevo-me a avançar uma solução que não é minha. É da autoria de um
amigo meu e acho-a muito interessante, principalmente notando essa ideia do voto
obrigatório.

É assim: eu não me importo que o voto seja obrigatório desde que o último dos
quadradinhos do boletim diga: “nenhum dos que estão acima”. Mas atenção!
Se o eleitor assinalar este quadradinho “nenhum dos que estão acima”, este voto deverá
ser contabilizado como “voto zero”. Isso quer dizer que ninguém ocupa o lugar no
Parlamento! Pois é!...o “voto zero” determina que o eleitor não reconhece a qualquer
dos candidatos ou partidos categoria suficiente para ocupar um lugar no Parlamento,
pelo que a conjugação desses votos redundaria na eliminação de lugares no Parlamento.
Esta parece-me ser a solução verdadeiramente democrática e que melhor expressa a
vontade do cidadão. Terá de ser trabalhada mas penso que será de possível aplicação.

Devo dizer, em jeito de conclusão, que a ideia de eleições em que os que não são
militantes podem escolher um líder partidário parece ser uma excelente solução! Penso
que o futuro será assim e com esse avanço deixará de existir uma negociação partidária
tão “cerrada” como existe hoje.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Des)Credibilização política

CARINA FERRO, deputada do PS-M

 
 
 “Age apenas de acordo com uma máxima tal, que possas querer que ela se torne, simultaneamente, uma lei universal”, KANT.






Lamentavelmente, continuamos rodeados por maus exemplos éticos e morais um pouco por todo o lado. É valorizado o “chico-espertismo” em detrimento do mérito, da excelência e da integridade política que quase deixou de ser reconhecida a olho nú. Até a própria justiça, aquela que se quis cega, parece punir os mais fracos e deixar à solta os mais poderosos, os que mais crimes de lesa pátria praticam. E assim, num clima de total amoralidade, de que forma se resgata a ética perdida?

É tão difícil resgatar a ética e a moralidade quanto separar os verdadeiros líderes dos falsos e perversos líderes. Parece existir uma promoção exacerbada do desrespeito pelas regras, a promoção e incentivo a ir além do limite daquilo que a sociedade civil pode encarar sem repúdio.
É um estado de alma generalizado da sociedade, onde se penaliza a boa conduta ética, profissional, deontológica e moral. Porque, não tenhamos dúvidas, há uma ténue e frágil linha que separa o amor do ódio, especialmente na política.

E aqui surge uma pergunta decisiva: Será que os fins justificam os meios? É um dilema ético, verdadeiramente. Mas até o próprio conceito de dilema se vê subvertido na política. Só existe um dilema ético quando nós temos que escolher entre uma coisa boa e uma coisa má. Só existe um dilema ético quando sabemos que há coisas que são boas para nós, mas más para a população em geral. Estarão os interesses pessoais acima dos interesses gerais da sociedade civil? Hoje, numa sociedade onde reina a ideia de que todos os meios são justificáveis para atingir determinado fim, torna-se claro para mim que a ética e a moral estão há muito em regressão na Madeira.

A facilidade com que hoje se vê políticos, ou técnicos da política, ou representantes de partidos a falar sem qualquer preocupação de exactidão nos factos, nos números, nas análises, nas propostas e nas consequências de tais declarações transmite claramente uma mensagem de que tudo é ligeiro, de que tudo é volúvel, de que tudo se pode dizer hoje e que amanhã se pode dizer o oposto, sem qualquer tipo de reprovação popular. Tudo isto contribui para a abstenção, para o afastamento da população às grandes decisões governativas do país e da região. E tudo isto contribui para que muitos partidos não recebam o voto de confiança, precisamente porque não existe a confiança.

Já diz o povo, sabiamente, “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti”. Nós somos exímios na ética, mas na terceira pessoa, i.e., somos muito exigente no que toca a dizer o que os outros devem fazer. No fundo, acaba por não ser moral, é moralismo. E o problema mantém-se, o da ética na primeira pessoa, o princípio base que define se a nossa consciência está tranquila, se podemos dormir descansados, ou se algo nos tira o sono.

Termino, com um apelo à consciência de cada um de vós, que equacionem se realmente se governa e se faz política apenas para as próximas eleições e não para as próximas gerações, e quem realmente defende a discussão e o debate que deve existir em torno das grandes questões geracionais nos programas dos partidos e programas de governo, quem realmente pode fazer diferente, e melhor.