FILIPE MALHEIRO, Jornalista |
A
coligação nacional entre PSD e CDS está cada vez mais pressionada por fatores políticos e financeiros que aparentemente não controla, e aproxima-se
aceleradamente daquele que parece ser o momento-chave da sua continuidade: as
discussões orçamentais. Tudo por causa dos impostos, do sim ou não a aumentos
de impostos já este ano, uma vez mais – outra mentira descarada – atribuído ao
impacto negativo, em termos orçamentais, da decisão do Tribunal Constitucional.
A coligação está claramente a braços com algum previsível mal-estar, o CDS está
desconfiado e ninguém consegue disfarçar que a coligação está pressionada quer pela
discussão de um orçamento retificativo, quinze dias antes de ficarmos a
conhecer a proposta de orçamento de estado para 2015, ano de eleições (se antes
não acontecer nada...), quer pela perspetiva de que o PS mude de líder nas
diretas de 28 de Setembro e que o cenário de eleições antecipadas, em função
disso e da impossibilidade de qualquer acordo político da atual maioria com os
socialistas liderados por António Costa, ganhe novo fôlego.
Acresce
a tudo isto a perceção, por parte do CDS, de que o partido perderá cada vez
mais espaço político e eleitoral - as sondagens já conhecidas antecipam um
descalabro eleitoral - pelo que a salvação de Portas e do seu partido será a de
envolver-se, mesmo que numa posição de humilhante secundarização, mais
acentuada que nas europeias, numa coligação com o PSD que dificilmente estará
em condições de ganhar as eleições.
A verdade é que fica a dúvida sobre se esta
opção poderá atenuar ou não a previsão de uma derrota eleitoral contundente -
mais ou menos o que aconteceu nas europeias de Maio passado em que o PS de
Seguro (à beira do fim) acaba por ganhar por pouco mais de 90 mil votos e elegendo
apenas mais 1 deputado que a coligação derrotada - que a acontecer, determinará
a imediata demissão de Passos e de Portas e mergulhará os dois partidos hoje no
poder numa eventual crise interna de disputa pelas respetivas lideranças que os
levará a uma “travessia do deserto” mais ou menos prolongada.
Num
cenário destes, perante a previsão de uma derrota eleitoral em aproximação
acelerada, qualquer decisão de aumento de impostos coloca o CDS, mais do que o
PSD - porque este partido, melhor dizendo, este "gang" liderado por Passos e comandita – numa posição ainda
mais fragilizada já que o PSD não parece disposto a perder tempo com discussões
com o seu parceiro sobre temas mais melindrosos.
A verdade é que depois da
vergonhosa encenação em torno da treta da linha vermelha e do roubo com as pensões
e as reformas, matéria com a qual o CDS tentou retirar dividendos políticos e
eleitorais por mero oportunismo saloio (que rapidamente caiu no esquecimento
porque a roubalheira sucede-se praticamente todos os anos, perante o silêncio
de Portas e as "explicações" patéticas de um partido que parece agora
agarrar-se ao IRS como um naufrago que não sabe nadar se agarra à bóia de salvação).
Passos,
como se viu este domingo, reagiu com indisfarçável irritação, não à antecipação
da notícia de eventual aumento de impostos, mas à forma como o assunto foi
"trabalhado" por Marques Mendes na SIC, passando a imagem de que era o
CDS a resistir a um aumento de impostos, contrastando com o PSD que pretenderia
impor esse aumento de impostos, numa curiosa separação, no quadro da coligação,
entre o partido bom e o partido mau.
Penso
que o mês de Setembro será decisivo para o futuro da coligação PSD-CDS, e
apesar de não acreditar que os portugueses queiram resistir de forma diferente
do que fizeram até hoje ou estejam dispostos a reagir a qualquer medida de mais
austeridade, continuo a afirmar que tudo dependerá das decisões que forem
tomadas até ao início de Setembro, de nada servindo a vergonhosa manipulação
mentirosa que a propaganda rasca e foleira deste governo de coligação rafeiro
continua a promover, sempre que o Tribunal Constitucional decide contra aquilo
que a corja de bandalhos que nos governa deseja impor no âmbito da sua
roubalheira esfomeada e da teimosia cega de a todos lixar, para melhor se
colocar, depois, de cócoras perante o capitalismo, a banca europeia, os
escândalos bancários pagos pelos dinheiros dos contribuintes, os especuladores
de mercados financeiros, as agências de “rating”, toda essa máfia ranhosa que
conhecemos e que passa ao lado das crises que muitas vezes ela própria provoca
com resultados lucrativos, penalizando sempre as populações, manipulando todos
os processos de decisão dos governos, e enfraquecendo a própria democracia.