terça-feira, 4 de novembro de 2014

CARINA FERRO, deputada do PS-M



O Sr. Presidente não pode esquecer 
que a democracia queo elegeu foi
 feita pelas bases: os militantes não podem servir 
apenas para encher a casa e fazer show-off.







Um candidato tem sempre legitimidade de apresentar as suas propostas, a sua estratégia de futuro para o partido a que se candidata. Um Presidente tem legitimidade que pretender prosseguir a estratégia que os militantes validaram em Congresso. Mas, para isso, é preciso que a estratégia seja debatida em Congresso e não apenas anunciada na sessão de encerramento. 

É o mesmo que ser candidato e dizer que está a fazer promessas que não pode cumprir, mas que só o assumirá depois de ser eleito. Que, até lá, prometerá tudo o que puder, a quem quiser, e garantirá o controlo do aparelho para cumprir o seu objetivo inicial: os fins justificam os meios. Mas não pode ser, na política não vale tudo, nem pode valer. 

Deve existir um limite, por muito que custe aos aparelhistas considerar esta hipótese. A política não é uma carreira profissional, é um serviço público prestado a termo e, muitas vezes, um regime de voluntariado que não é reconhecido ou agraciado. E há quem tenha muita dificuldade em aceitar isto, em particular, aqueles que vivem à custa do aparelho e os situacionistas. 

Eu já nem falo daqueles que, em determinado momento, desempenham funções nos Partidos, mas que fazem, ou já fizeram algo fora da esfera política, que têm um trabalho que lhes permite alguma isenção e liberdade na sua atuação política precisamente porque não dependem da política para (sobre)viver.  

“Não mordas a mão que te dá de comer”, diz o ditado. Bem verdade. Mais verdade ainda é que este “não mordas” sufoca a liberdade de expressão e de pensamento de muitos intervenientes políticos regionais, sufoca a democracia no seu todo, sufoca as decisões que devem ser impreterivelmente tomadas a pensar no bem-estar da população e não no bem-estar pessoal de cada um destes intervenientes.

E aqui está o busílis da questão: todo e qualquer candidato a Presidente, quando Presidente, deve ambicionar que o seu Partido ganhe as eleições ou, no mínimo, tente ganhar as eleições, sem olhar a ambições pessoais desmesuradas que só poderão resultar na cabal destruição do Partido perante os militantes e a própria opinião pública.  

O Sr. Presidente não pode esquecer que a democracia que o elegeu foi feita pelas bases: os militantes não podem servir apenas para encher a casa e fazer show-off. Há que haver respeito pelos militantes e apostar na massa crítica destes que se militaram, em particular quando o futuro exige que se discuta e debata uma estratégia vencedora para as eleições regionais. A hora não é para ensurdecer com tamanha obsessão pela liderança, nem se compadece com Presidentes que se auto legitimam com políticas de café que se repercutem em absolutamente nada. Há decisões a tomar, há discussões a fazer, há uma mesa de negociações na qual todos devemos sentar-nos. 

Osufoco democrático não permite estas coisas, bem sei, mas o tempo é de ação e de estratégia, não de perpetuação no poder com discursos cansados e falhados. A esse respeito, ainda há muito pouco li numa entrevista peculiarmente reveladora que “os interesses do Partido não podem estar acima dos interesses da Região”. Sim, mas não só. Os interesses pessoais do Sr. Presidente não podem estar acima dos interesses do Partido. À exceção dos situacionistas, esta parece ser uma premissa consensual. Sejamos adultos porque o tempo é decisivo e arriscamo-nos a perder, enquanto madeirenses, a oportunidade histórica de demonstrarmos que a Madeira pode ser muito mais e muito melhor. 
P.S.- Qualquer um consegue chegar a Presidente; ser líder é que já não é para todos.

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